segunda-feira, 18 de junho de 2012
Adolescer - Apresentação em Mira Sintra
Vamos dar um fuminho princesa?
Minha heroína, menina bonita do mundo às
bolhinhas de cores.
Ias andando em círculos desengonçados, perdida
no meio da fumaça pesada.
e o corpo dói num arrepio cansado sem fim!
Meu amor, o fumo não pára, gira até ao
desespero de um grito que dilacera ainda mais a doença.
uma lágrima em silêncio, afogada no meio dos
tijolos vermelhos inundados de suor. cabelos compridos
negros, macios, sedosos e brilhantes como prata polida
ao sol, e uns olhos de fumo...
Que sabias tu do fumo, minha dama das
camélias murchas?
o fumo, enebria e é doce, vive num reino distante
de cavalos selvagens e anjos esvoaçantes. Numa
planície laranja pálida, escorrida de uma aguarela
esquecida na paleta de um pintor louco.
Partir... viajar sem fim em busca de moinhos de
vento na febre que leva à náusea, porque se inala vomita
inala vomita o fumo, convergido em espirais de pó
ressequido que se entranha na alma. ouve-se o arrastar
das correntes da dama das camélias murchas, mas ela
não se vê, está presa no meio da fumaça. cativeiro de
sangue espicaçado, pisado, ácido. explode, ferve em
bolhas de impaciência e desespero; vive e morre na
vertigem visceral do ser. Apanhou bolor, apodreceu no
lodo na viagem para o reino do fumo...
eras bonita menina, perdes-te as tranças num
cavalgar selvagem. choro por ti, não pelo fumo.
cavalo rebelde incontrolável, anjo caído no
nevoeiro da noite branca, dama das camélias murchas. sê
bem-vinda ao reino do fumo, bebe e come do mais doce
que há, cobre-te de pratas, ouros e pedras preciosas,
perfuma-te, banha-te...
sonha...
Nos jardins do palácio do fumo, está um cavalo
selvagem sepultado...
A lápide dizendo:
duvidaste deste mundo
Porque ele nunca acreditou em ti...
sentir? Não é possível, fecharam as portas do céu.
Fumo ao fumo...
ANA PAulA costA
in Adolescer p. 27
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